Quero ser lida. Quero que devore minhas letras e me engula seco em cada soletrar. Quero estar na escrivaninha, na cabeceira. Quero estar, por acidente, entre seus lençóis, num anoitecer que escorrega sem marcar a página.
Eu quero anotações de post-it em meu corpo, quero debate nos fins de semana e ter meus textos contestados. Quero ser publicada, de mãos dadas, exposta nas ruas, livrarias e me debruçar de mão em mão. Quero que não quebre minhas orelhas, mas me leia e me ouça tanto quanto estou disposta a mudar de narrativa.
Eu quero parágrafos longos, dedos calmos, olhos afobados e diagramação embaralhada. Quero que desvende minha moral e sucumba aos meus devaneios. Interpretação inexata, mas cheia de sede.
Eu quero que me leia tendo a ciência de que minhas palavras tortas não findam, que eu tenho gosto de Mercúrio e só sei me ser em grandes mergulhos. Quero ser lida, mesmo com exagero de caracteres. Quero ser lida em voz alta, em sussurro e em olhos famintos.